Foi o fundador de um conhecido varejo online que fez a seguinte confissão:
– Todo domingo de manhã eu vou à Igreja. Logo cedo, me ajoelho e rezo…. rezo por São Marcio da Igreja da Netshoes. Peço pela saúde dele e do negócio dele, peço para que tudo dê certo nos seus caminhos, rezo para que estejam protegidos de todo mal, amém!
Não sei se as palavras foram exatamente essas, mas a ideia com certeza foi. Quem me contou o caso foi o próprio Santo quando trabalhávamos juntos. Por mais que contenha uma dose de ironia, a história dá uma ótima percepção do que significa a Oferta Pública de Ações (IPO) da Netshoes que acontece aqui em Nova York.
De empreendedor novato a fundo graúdo de investimento, passando por concorrente com sotaque francês, estão todos torcendo pelo sucesso da abertura de capital do e-commerce da rua Vergueiro. Porque quando Marcio Kumruian — CEO e um dos fundadores da empresa — tocar aquele sino, ele não estará selando apenas o destino da sua empresa. Ele irá impactar todo um ecossistema muito promissor da economia brasileira formado por empreendedores, investidores brasileiros e estrangeiros, aceleradoras, jornalistas, agências de publicidade, consultorias, escolas, professores e uma série de prestadores de serviços que compõem o universo de startups do país.
Esse setor precisa de um case. E esse case tem que ser a Netshoes. Porque hoje não tem ninguém no Brasil com tamanho ou maturidade para liderar esse processo. Um IPO nos Estados Unidos é um carimbo importante, um reconhecimento simbólico. A Netshoes precisa dar certo para que se construa uma nova percepção em relação a startups brasileiras e, em especial, a e-commerces do país.
Passe de mágica?
Quer dizer então que pós-abertura de capital da Netshoes todos os problemas das startups brasileiras irão desaparecer em um piscar de olhos? Claro que não. Mas companhias como 99 Táxi, Movile e Nubank, entre outras, podem se beneficiar desse movimento que irá fortalecer o ecossistema ao mostrar, por exemplo, que a ida à Bolsa pode ser uma fonte de financiamento factível para algumas empresas e uma possível saída para quem investe nelas.
O IPO então vai fazer com que a Netshoes finalmente dê lucro? Não, uma coisa não tem nada a ver com a outra. A abertura de capital não é um passe de mágica que, do dia para a noite, transforma tudo em ouro. A Netshoes acorda no dia 13 de abril com os mesmos desafios, mas também com as mesmas conquistas que tinha na noite do dia 12. E, convenhamos, não são poucas. Erguer um império bilionário partindo dos fundos de um estacionamento, tornar-se o maior case de empreendedorismo digital da história do Brasil e repetir, dez anos mais tarde, a façanha do hermano Mercado Livre de chegar à bolsa americana não é para qualquer um.
Enquanto todas as grandes empresas querem aprender a pensar como startups, a Netshoes é a prova de que agir como uma pode te tornar grande. Vamos torcer pelo Benjamin, o primeiro unicórnio brasileiro. Salve, Santo Marcio da Igreja Netshoes, padroeiro das startups do Brasil!
*Renato Mendes é sócio da Organica, professor de Marketing Digital do Insper e mentor Scale Up da Endeavor Brasil. Já empreendeu, ocupou posições de liderança em startups, foi advisor de fundo de venture capital, mentor e investidor dessas estrelas da nova economia.
FONTE: ÉPOCA NEGÓCIOS