Tal como era esperado pelos analistas de mercado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) mostrou crescimento de 1% no primeiro trimestre de 2017, ante os últimos três meses de 2016, livre de influências sazonais. Este resultado interrompe a sucessão de quedas registradas durante os oito trimestres anteriores, e, do ponto de vista técnico, tira o País da recessão.
Contudo, no contraste com o mesmo período do ano anterior, entre janeiro e março, continuou a ser observado recuo da atividade (-0,4%), embora menos pronunciado em relação ao registrado no trimestre imediatamente anterior, o que sinalizaria perda de intensidade da recessão.
Pelo lado da demanda, na comparação com os três primeiros meses de 2016, o consumo das famílias, seu principal componente, apresentou contração de 1,9%, menor que a registrada em 2016 (-5,8%), em decorrência das reduções da renda, do crédito e do aumento do desemprego.
No caso dos investimentos produtivos e em infraestrutura (formação bruta de capital fixo), continuou havendo contração (-3,7%), devido à falta de confiança dos empresários, à paralização das empresas envolvidas na “Operação Lava Jato” e à diminuição do investimento público. A participação destes investimentos sobre o PIB (taxa de investimento) diminuiu para a apenas 15,6%, que além de constituir mínimo histórico, está muito abaixo da média para os países emergentes (25% do PIB).
Por sua vez, o consumo do governo, que corresponde basicamente às despesas com servidores nas três esferas governamentais, apresentou redução (-1,3%), mais intensa do que a observada durante o ano passado (-0,8%), refletindo algum esforço de contenção dos gastos públicos.
As exportações foram o único item da despesa a dar contribuição positiva, aumentando 1,9%, produto da elevação da taxa de câmbio ocorrida durante o ano passado, que aumentou a competitividade da produção nacional, e da recuperação da economia mundial.
Pelo lado da oferta, mantendo-se a mesma base de comparação, a atividade industrial apresentou retração de 1,1%, bem inferior à observada nos primeiros três meses de 2016 (-7,0%), explicada basicamente pelos aumentos da produção e distribuição de eletricidade, gás e água (4,4%) e do setor extrativo mineral (9,7%).
Os serviços, que constituem o principal setor produtivo da economia, continuaram mostrando queda (-1,7%), porém menos intensa que aquela registrada em igual período de 2016 (-3,5%), em decorrência das reduções da renda e do emprego.
Todos os segmentos deste setor exibiram contração, especialmente no caso das atividades de intermediação financeira (-4,0%) e comércio (-2,5%).
O principal destaque foi a agropecuária, que registrou expressiva elevação de sua produção em 15,2%, favorecida pelo clima e pelos ganhos de produtividade, resultando na melhor safra dos últimos 20 anos, principalmente no caso das culturas de milho e soja.
A perspectiva para o restante de 2017 é de continuidade da recuperação da economia. A produção agropecuária deverá continuar aumentando, o que, além de contribuir para a retomada do crescimento do PIB, acentua a redução da inflação, que deverá prosseguir, abrindo espaço para a continuidade da redução dos juros por parte do Banco Central. Ao mesmo tempo, as exportações também poderão continuar contribuindo positivamente para elevar a atividade, ainda que sua evolução dependa do comportamento do câmbio. Mantendo-se a atual política econômica, a atual crise político-institucional poderá diminuir a velocidade da recuperação, mas não sua tendência.
FONTE: Instituto de Economia Gastão Vidigal