Apesar da melhora no clima econômico, o consumo ainda não respondeu, deixando diferentes segmentos do comércio com vendas em patamar ainda distante de seus recordes
Por Renato Carbonari Ibelli 14 de Fevereiro de 2019 às 08:00
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O comércio varejista ainda precisa remar muito para voltar ao auge das vendas. Alguns segmentos, como os de automóveis e materiais para escritórios, fecharam 2018 com volumes de comercializações 30% inferiores aos seus níveis recordes, segundo dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
O caminho para a saída da crise econômica, iniciada em 2014, vem se mostrando muito mais longo do que esperavam os analistas. A recuperação do emprego e dos salários, fatores decisivos para o reaquecimento do consumo, acontece em ritmo de lentidão.
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A taxa de desemprego, por exemplo, que atingiu 14% dos brasileiros no início de 2018, teve leve melhora e atualmente está próxima dos 12%, segundo o IBGE.
O varejo não sente apenas o impacto daqueles trabalhadores que deixaram de consumir por estarem desempregados.
O desemprego elevado derruba a confiança do universo de consumidores que prefere conter os gastos por pressentirem que podem ser os próximos a deixar o mercado de trabalho.
Como resultado, ocomércio varejista ampliadohoje registra vendas 12,3% inferiores às de agosto de 2012, quando atingiu nível recordista.
O varejo ampliado cresceu em 2018 menos do que o esperado, com alta de 5% sobre 2017, longe do necessário para voltar ao pico de vendas apurado seis anos atrás.
O que ajudou o varejo ampliado a crescer foi o desempenho do segmento de veículos, que fechou 2018 com alta de 15,1% nas vendas na comparação com 2017, segundo o IBGE.
Ainda assim, esse segmento está entre os que registram a maior defasagem entre o desempenho atual e o recorde histórico. Hoje, as vendas de veículos, juntamente com autopeças, são 34,2% inferiores àquelas de junho de 2012, auge para as comercializações do segmento.
Para a equipe de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), apesar do varejo ter crescido abaixo do esperado no ano passado, a perspectiva para os próximos meses é mais alentadora em função da forte recuperação da confiança do consumidor e da menor inflação esperada para 2019, abrindo a possibilidade de manutenção dos juros básicos no atual patamar.
O ainda elevado custo do crédito tem prejudicado as vendas. Entre novembro de 2017 e novembro de 2018, os juros do crédito direto ao consumidor nos bancos cederam de 2,03% para 1,77% ao mês e os dos empréstimos pessoais recuaram de 4,20% para 3,84% ao mês.
Apesar do recuo dos juros, o crédito ainda é muito caro no país, o que contribui para travar o consumo. No cartão de crédito e no cheque especial, as taxas são, respectivamente, de 275% e 283% ao ano.
Sem encontrar dinheiro barato no mercado, o consumidor tem segurado o ímpeto na hora de comprar itens de maior valor, como móveis e eletrodomésticos, cujas vendas fecharam 2018 em nível 24,9% inferior à registrada em maio de 2014, mês que assinalou recorde de vendas do segmento.
Os números do IBGE mostram que apenas o segmento que envolve artigos farmacêuticos e de perfumaria mantém um ritmo positivo, encerrando o ano passado com vendas recordes.
As vendas nos supermercados e hipermercados também seguiram fortes -ainda que aquém da expectativa das empresas-, fechando 2018 apenas 1,1% abaixo do recorde histórico do segmento, registrado em dezembro de 2013.
FONTE: Diário do Comércio