ABF lança livro com a história dos pioneiros da atividade, como o Bob´s (na foto), e mostra como o setor vem se mantendo como um dos mais resistentes da economia nas últimas três décadas
Por Karina Lignelli | Repórter [email protected]
Ela acaba de completar 30 anos como a segunda maior entidade do setor no mundo (atrás apenas da americana International Franchising Association, ou IFA).
Hoje, com 1,1 mil associados, representa um setor que cresceu 8,3% em 2016, faturou R$ 151,2 bilhões e emprega 1,2 milhão de pessoas.
É dessa forma, contabilizando grandes números, que a Associação Brasileira de Franchising (ABF) comemora seu aniversário com o lançamento do livro “ABF 30 anos” (Ed.Lamonica, 2017).
Em 12 capítulos, que contêm depoimentos dos pioneiros e atuais empreendedores do franchising e fotos para lá de emblemáticas dos diversos momentos econômicos que o Brasil enfrentou, a entidade passa a limpo sua história até chegar à consolidação do setor.
No começo, lá pelos idos de 1997, apenas 11 marcas operavam no sistema por aqui. E a entidade, fundada pelo empresário Ricardo Young e os consultores Marcus Rizzo e Marcelo Cherto, entre outros profissionais, tentava ajudar o setor a se desenvolver e se manter na superfície em um ambiente de hiperinflação e planos econômicos que não deram certo.
Mas antes de mais nada, o livro faz uma viagem pelo varejo do século passado para dar uma ideia de como o setor foi se sofisticando para atender cada vez mais às necessidades do consumidor. E chegar ao atual modelo de negócio do franchising sacramentado pela ABF.
Primeiro, com a abertura de lojas como Pernambucanas (1908), Mappin (1913) – que estreou nas franquias em 1997, com uma loja no shopping Jardim Sul – e a Sears (1949). Depois, com a adoção do sistema de supermercados, como Peg Pag e Pão de Açúcar, nos anos 50.
Outro marco foi a abertura da primeira lanchonete do Bob’s, em 1952 [na foto que abre esta reportagem] –que virou franquia em 1984. Ou as pioneiras escolas de idiomas, como Yázigi, Fisk e CCAA, primeiras a adotarem o modelo de negócio.
Finalmente, a proliferação dos shoppings centers a partir dos anos 60 e 70, que começou a partir da abertura do Iguatemi, em São Paulo, e o Madureira, no Rio de Janeiro – e que acabaram impulsionando nos anos seguintes o crescimento do franchising.
O grande salto, porém, aconteceu na década de 80. “O Plano Cruzado, junto ao Estatuto da Micro e Pequena Empresa (1984), criaram um cenário muito propício para esse modelo de negócio”, segundo Marcelo Cherto.
E foi com esse modelo padronizado, pré-formatado e de risco relativamente baixo que deixou o franchising atrativo tanto para empreendedores experientes como para os de primeira viagem.
EM ATIVIDADE
Entre erros e acertos, a abertura e o fechamento de redes, a chegada –e o retorno -de marcas procedentes de outros mercados e até algumas pendengas judiciais envolvendo franqueadores e franqueados, o franchising foi alcançando outros patamares com a ajuda da ABF.
Um deles, a promulgação da Lei de Franquias, sancionada pelo presidente Itamar Franco em 1994 com o apoio da entiadade, ajudou a regulamentar a relação entre as partes.
A diversificação do setor, em que dominavam as redes de fast food, também se mostrou cada vez mais forte no ABF Franchising Show de 1996 e nos anos seguintes. Nessa edição, o evento atraiu franquias de autopeças (Auto Express), construção (Peg&Faça) e até do segmento gráfico (Alphagraphics).
Hoje, o setor conta até com franquias do ramo imobiliário, limpeza e conservação, educação financeira e contabilidade, entre outras.
A criação de outros modelos dentro do próprio franchising, como a migração da indústria para o varejo – com as redes O Boticário, hoje a maior franquia de cosméticos do país, e a Hering – também foi um dos exemplos mais emblemáticos.
Ou o boom das microfranquias (com investimento até R$ 90 mil) e do home based, que se tornaram opção para muitos profissionais que decidiram empreender na crise.
E ainda, a internacionalização, o ponto máximo, puxada pelos convênios com a Apex-Brasil e a realização de missões internacionais.
Tentando aumentar ainda mais a visibilidade do setor e deixando para trás os anos em que operava no vermelho, a ABF conquistou tamanha influência que chegou a ser uma das entidades responsáveis pela criação da Secretaria Nacional de Comércio e Serviços, ligada ao MDIC.
Com a consolidação do setor, a ABF passou a focar na capacitação – que o digam o MBA de Gestão em Franquias, criado em parceria com a FIA (Fundação Instituto de Administração). Ou o Congresso de Expansão de Redes, realizado a partir de 2015.
Presidente na gestão 2013-2016, Cristina Franco, a primeira mulher a assumir o comando da ABF, resume essas iniciativas, cujo foco é levar conhecimento ao empreendedor.
“Na crise, sobrevive quem estiver mais capacitado”, afirma.
O livro encerra com a visão da entidade sobre os próximos 30 anos, baseada em pilares como educação, economia do compartilhamento, inovação e governança, entre outros.
Mas sem perder o foco no longo prazo nem a “visão pelo retrovisor”, que remete aos percalços políticos e econômicos pelos quais o Brasil passou, segundo Altino Christofoletti Jr, fundador da Casa do Construtor e atual presidente da ABF.
“Empreender no Brasil não é tarefa para amadores”, afirma, na abertura do livro, que divide com Artur Grynbaum, presidente de O Boticário e do Conselho de Associados da ABF, citando uma frase recorrente no metié do franchising.
Frase, aliás, que resume como o setor vem se mantendo como um dos mais resistentes da economia nos últimos 30 anos. Que venham os próximos 30.
FONTE: Diário do Comércio