Em entrevista exclusiva à Revista Acirp, o Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo faz uma análise sobre o agronegócio e sua participação na economia brasileira.
Revista Acirp: Quais os impactos do agronegócio na economia mundial?
Arnaldo Jardim: O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia mundial, pois se refere à atividade de produção e de fornecimento de alimentos e de produtos derivados da agricultura e da pecuária para atender a necessidade de uma população em constante crescimento. As questões geopolíticas exercem grande influência sobre o agronegócio, na medida em que países com maior potencial produtivo, como é o caso do Brasil e Estados Unidos, grandes exportadores da atualidade, têm o desafio de abastecer o mundo. O anúncio da saída do Reino Unido da União Europeia, por exemplo, pode abrir oportunidade de ampliar o fornecimento de produtos agropecuários pelo Brasil, assim como pode gerar incertezas com relação aos demais países que compõem o bloco econômico. Da mesma forma, a adoção de medidas protecionistas em países como os Estados Unidos, abre a oportunidade para a exploração de novos mercados comerciais.
Qual a participação do agronegócio na economia brasileira?
O agronegócio é fundamental à economia brasileira. Neste período de crise econômica, o setor tem sido responsável por evitar um déficit ainda maior na Balança Comercial, além de exercer importante papel social, sendo um dos setores que mais tem gerado oportunidade de emprego.
No primeiro semestre de 2017, de acordo com informações do Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria, o agronegócio paulista apresentou saldo na Balança Comercial de US$ 6,96 bilhões, 5,6% maior do que o registrado no primeiro semestre do ano de 2016. As exportações tiveram um crescimento de 7,6%, atingindo US$ 9,44 bilhões, e as importações aumentaram 13,8%, somando US$ 2,48 bilhões.
Importante ressaltar que, ao excluir o agronegócio, as importações paulistas nos demais setores somaram US$ 23,34 bilhões, e as exportações US$ 15,20 bilhões, gerando um déficit comercial de US$ 8,14 bilhões nos primeiros seis meses de 2017. Sendo assim, pode-se concluir que o comércio exterior paulista seria bem mais deficitário não fosse o desempenho do agronegócio estadual.
Qual a importância e o que representa o agronegócio na região de Rio Preto?
Entre os principais produtos da agropecuária paulista, a região de São José do Rio Preto tem grande participação nas seguintes culturas, de acordo com dados do Valor da Produção Agropecuária (VPA), do Instituto de Economia Agrícola (IEA): 1ª) cana-de-açúcar, com produção de R$ 1.450,10 bilhões, o equivalente a 54,7% do que é produzido na região; 2°) carne bovina, com produção de R$ 342,31 milhões, 12,9% do total produzido na região; 3º) carne de frango, com valor de R$ 229,87 milhões, 8,7% da produção na região; 4º) borracha, com R$112,47 milhões e 4,2% do total da região; e 5º) laranja para indústria, R$105,37 milhões e 4% do total da produção na região.
Os demais produtos, que representam os 10,5% restantes da produção na região, foram responsáveis pela arrecadação de R$ 410,90 milhões em 2016.
Qual o valor arrecadado com a produção agropecuária no Estado de São Paulo, e qual o da região de Rio Preto?
Em 2016, o Valor da Produção Agropecuária (VPA), que mede o faturamento de 53 produtos da agropecuária paulista, totalizou R$ 78,5 bilhões, 24,1% superior ao VPA calculado no ano anterior. O estudo é realizado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA), da Secretaria, nos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDR) do Estado.
No EDR de São José do Rio Preto, o VPA chegou a R$2,651 bilhões, ocupando o 8º lugar entre os 40 EDRs, com uma participação de 3,5% no valor total arrecadado com a atividade agropecuária paulista. Em 2015, o VPA na regional foi de R$ 2,122 bilhões, mantendo a 8ª posição no ranking e participação estadual de 3,5%.
No EDR de São José do Rio Preto, estão inclusos os municípios de Adolfo, Bady Bassit, Bálsamo, Cedral, Guapiaçú, Icém, Ipiguá, Jaci, José Bonifácio, Mendonça, Mirassol, Mirassolândia, Monte Aprazível, Neves Paulista, Nipoã, Nova Aliança, Nova Granada, Onda Verde, Palestina, Poloni, Potirendaba, São José do Rio Preto, Tanabi e Ubarana.
Como é a logística do agronegócio no interior de São Paulo? Como melhorá-la?
Nossa agrologística ainda é ineficiente, pois apesar de produzimos com excelência, o escoamento ainda está longe do ideal. É necessária uma visão de urgência sobre estes problemas, que já contam para sua solução com diversos estudos e propostas existentes – tanto no setor público quanto no privado. É preciso realizar uma seleção de propostas de melhorias considerando os aspectos técnicos e institucionais, como melhoria da competitividade (menor custo e redução do tempo de transporte); projetos de curto prazo na execução e menor custo de implementação (que atendam ao caráter regional); e maior impacto para a integração e desenvolvimento regional (econômico, social e ambiental).
Grande parte das propostas existentes se viabiliza a partir de concessões, parcerias ou prorrogações de concessões existentes. A visão e os projetos logísticos devem considerar o conjunto de cargas a serem movimentadas e os diversos modais disponíveis (sazonalidade da produção e compartilhamento de cargas). As ferrovias devem possibilitar o transporte eficiente – nos dois sentidos da via.
É necessária a implantação de sistemas de armazenagem eficientes e sincronizados com o sistema de produção e transporte (hubs de estocagem e produção agrícola). Realizar a revisão de aspectos jurídicos e institucionais que visem desburocratização, economicidade e maior eficiência do sistema.
Quais medidas devem ser tomadas para fomentar a agricultura familiar?
A agricultura familiar é responsável por cerca de 80% da produção agropecuária e 60% dos alimentos no País, traduzindo a realidade do homem do campo, que tira da terra o sustento de seus familiares. É fundamental, para garantir a sucessão no campo e a continuidade da produção agropecuária, apoiar o agricultor familiar com melhores tecnologias e práticas para aumentar a produtividade, gerar mais renda e mantê-lo no campo, com qualidade de vida.
Orientada pelo governador Geraldo Alckmin, a Secretaria tem buscado apoiar o pequeno produtor e o agricultor familiar que, sozinho, muitas vezes não dispõe de meios para acessar as inovações, melhorias e ferramentas para gerir o seu negócio. São várias iniciativas voltadas ao produtor, que é pequeno apenas pelo tamanho de sua propriedade ou negócio, mas é grande na vontade de crescer e desenvolver suas atividades.
Quais são as ações da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo para a região de Rio Preto?
Entre as várias ações que a Secretaria desempenha em todo o Estado e no EDR de São José do Rio Preto, destacam-se o Programa Melhor Caminho, que entre os anos de 2015 e 2017, já recuperou mais de 38 quilômetros de estradas rurais em sete municípios da regional: Adolfo, Bady Bassit, Jaci, Mendonça, Nova Aliança, Poloni e Nova Granada. As obras no valor de R$ 4.851.295,04 são realizadas pela Companhia de Desenvolvimento Agrícola de São Paulo (Codasp). O programa facilita o escoamento da produção e o acesso da população nas áreas rurais, bem como evita o assoreamento dos rios.
A Secretaria também apoiou quatro associações e duas cooperativas de produtores rurais a elaborar e desenvolver nove propostas de negócio, por meio do Projeto Microbacias II, totalizando um investimento de R$ 3.737.986,75, sendo R$ 2.598.068,11 por parte do governo paulista e a contrapartida de R$ 1.136.918,64 da entidade.
São José do Rio Preto também tem grande importância no desenvolvimento da pesquisa paulista, pois sedia, desde 2014, o Centro Avançado de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio do Pescado Continental, do Instituto de Pesca (IP). O local tem capacidade para atender 300 pessoas por mês, entre produtores rurais e estudantes do ensino fundamental aos cursos de pós-graduação.
Em março de 2017, com um investimento de R$ 4,71 milhões do governo paulista, foram instalados no espaço 27 tanques de alvenaria e escavados de diversas dimensões, que serão utilizados para incrementar as pesquisas da piscicultura e aquicultura, no desenvolvimento de práticas de manejo, tipos de rações e introdução de novas espécies de peixes, trabalho conjunto com o setor produtivo.
A região é bastante rica e tem muito a contribuir com o desenvolvimento e fortalecimento da agropecuária paulista.
Sua página nas redes sociais indica documentários para repensarmos a vida na Terra. Qual a sua reflexão sobre essas indicações?
A convivência harmônica com o meio ambiente é fundamental para assegurarmos qualidade de vida às gerações futuras, por isso, é preciso rever atitudes e adotar práticas ambientalmente sustentáveis no que se refere à produção, à destinação dos resíduos, ao consumo consciente e ao cuidado com os recursos naturais.
O agricultor é o melhor amigo do meio ambiente, porque sabe que, do cuidado com o solo e com a água depende a sua produção, o seu sustento. Cada vez mais precisamos repensar os métodos de produção, buscando alternativas sustentáveis e priorizando ações como: a agricultura irrigada, que permite maior produtividade em menor área; a recuperação de áreas em erosão; a recuperação de nascentes e matas ciliares; o reuso das águas de chuva; tratamento de efluentes, geração de energias renováveis; e alternativas de controle biológico, reduzindo a necessidade de utilização de defensivos agrícolas. Além das atividades do campo, toda a sociedade pode e deve contribuir para a sustentabilidade do planeta, como a coleta seletiva e o consumo consciente.