Após extenso período de retração, as vendas do varejo começam a se recuperar de forma inequívoca, assim como grande parte da atividade econômica. Em que pese que a base de comparação mais fraca, principalmente em termos de 2015 – ano em que se atingiu o “poço” em termos de quedas das vendas, termina por favorecer a comparação, existem, de todo modo, fatores de natureza econômica que também entram na explicação.
Por uma parte, houve recomposição do poder aquisitivo das famílias, em decorrência da importante redução da inflação, pela maior geração de empregos e pela liberação de recursos do FGTS, que permitiu que um contingente importante de consumidores pudesse pagar suas dívidas, abrindo espaço para uma elevação futura das compras.
Outro fator que tem impulsionado essa recuperação é o aumento da disponibilidade de crédito, com menores taxas de juros e maiores prazos de financiamento. Essa maior abundância, somada à melhores condições de financiamento, são fruto da redução da taxa de juros básica (SELIC) por parte do Banco Central.
Um terceiro “motor” importante da retomada do comércio é a melhora da confiança do consumidor, que sinaliza sua predisposição a comprar nos próximos meses. Esta depende, por um lado, de sua situação financeira atual e, por outro, e de forma mais importante, de suas expectativas com relação à sua situação futura em termos de renda e emprego.
Desse modo, a conjugação desses fatores permite augurar que as vendas do varejo restrito (que não incluem veículos e material de construção) terminem o ano crescendo, o que não ocorre desde 2014. No caso do varejo ampliado, que inclui todos os segmentos, a recuperação é mais intensa, impulsionada pelas vendas de automóveis e de autopeças, relativamente mais beneficiados pela maior disponibilidade do crédito.
Apesar do grande nível de incerteza que prevalece no campo político, onde nem sequer se pode assinalar com certeza quais serão os candidatos à Presidência da República, e muito menos qual seria sua plataforma em termos de política econômica, acreditamos que esse verdadeiro “viés de alta” do varejo continuará sua trajetória no ano que vem, possivelmente de forma mais intensa.
Os mesmos fatores que hoje incidem sobre sua retomada deverão continuar presentes em 2018, pois a inflação deverá seguir muito próxima à meta, embora possivelmente acima da que esse espera para o presente ano, ao dissiparem-se os efeitos deflacionários da grande expansão da produção agropecuária.
A inflação sob controle, combinada com a continuidade da diminuição do desemprego, intensificarão os ganhos de renda das famílias. O bom comportamento dos preços aumenta de forma importante a chance de que a taxa SELIC permaneça próxima aos patamares atuais, preservando-se a expansão saudável do crédito, com juros baixos e prazos mais longos.
Tudo isso melhora a situação atual e as expectativas das famílias quanto ao futuro, permitindo com muita chance que a confiança do consumidor continue crescendo, voltando aos níveis mais altos pertencentes ao campo otimista.
O cenário traçado nesse espaço é de curto prazo. Para garantir que a expansão da atividade em todos seus segmentos seja sustentável a médio e longo prazos, será necessário perseverar não somente no ajuste fiscal, mas também, e tão importante quanto, na realização de reformas estruturais, onde a mais urgente é a previdenciária.
FONTE: Instituto de Economia Gastão Vidigal