O prazo para entrega da declaração de ajuste anual de renda à Receita Federal terminou no último dia 30. A situação não é muito boa para quem tem que pagar imposto, mas os que têm restituição a receber estão aliviados. Se esse é o seu caso, já deve ter percebido que os bancos oferecem linhas de crédito especiais, que liberam o valor antes do pagamento, pela Receita Federal, da diferença de imposto pago a mais. Da mesma forma, essa espécie de antecipação de recebíveis pode ser feita com o 13º salário. As linhas abertas pelas instituições financeiras são atraentes, mas exigem cuidado: analise bem se realmente precisa desses recursos antecipadamente porque as taxas são elevadas – às vezes, muito mais altas do que se imagina. No banco Itaú, por exemplo, a taxa de juros para antecipação de 13º salário varia entre 3,3% e 4,83% ao mês, dependendo do prazo, do correntista e do valor do empréstimo. Entretanto, em uma simulação feita pelo matemático José Dutra Vieira Sobrinho (autor dos livros “Matemática Financeira” e “Manual de Aplicações Financeiras HP12C”), o Custo Efetivo Total (CET) passa de 5,08% ao mês – o equivalente a 81,27% ao ano. Ele usou o valor de R$ 1 mil de empréstimo, com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 0,0082% ao dia mais adicional de 0,38%. Na simulação, o prazo de pagamento foi de 239 dias e a parcela única ficaria em R$ 1.476,20 (veja detalhes dessa simulação no quadro). A conclusão do trabalho é que só vale a pena pegar esse tipo de empréstimo se você tem uma dívida com taxa superior aos valores cobrados. “Normalmente, o crédito vinculado a recebíveis tem taxas mais atrativas que empréstimos pessoais. Mas a opção de crédito consignado pode ser mais interessante. É importante pesquisar”, afirma o matemático. BB, Santander e HSBC O Santander cobra juros a partir de 3,99% ao mês na antecipação do 13º salário, com limite de 80% do valor bruto a receber. O Banco do Brasil tem taxa de 2,99% ao mês, mas com restrição de 40% do valor bruto para quem recebe em duas parcelas e 80% para quem recebe em uma. No caso de antecipação da restituição do Imposto de Renda, as taxas de empréstimo parecem melhores. O BB cobra 2,25% ao mês para valores entre R$ 5 mil e R$ 20 mil como garantia. Para os créditos de até R$ 5 mil, os juros são de 2,65% ao mês. O HSBC trabalha com taxa de 2,8% ao mês com adiantamento de até 75% do valor a receber, no limite de R$ 30 mil. O Santander cobra 2,75% mensais, mas, novamente, de acordo com os cálculos do matemático Vieira Sobrinho, o CET é de 3,1% ao mês (44,23% ao ano), com os mesmos valores e prazo de simulação. Algumas instituições cobram também Taxa de Abertura de Crédito (TAC), mas isso já faz parte do CET. Na hora de fazer o empréstimo, você precisa pedir o CET em vez de apenas os juros. Os bancos não costumam divulgar esse custo, mas são obrigados a fornecê-lo se você pedir. Para todos os casos, o pagamento é feito em parcela única, no ato do recebimento do 13º salário ou restituição. Garantias? O problema da antecipação desses recebíveis, além dos encargos financeiros elevados, é o fato de que dificilmente você consegue mudar de banco quando encontra taxas melhores. No caso do 13º salário, você só pode fazer o empréstimo na instituição em que recebe o salário. Para Imposto de Renda, as opções são mais variadas para quem tem conta em mais de um banco – mas você só pode antecipar com aquele que indicou à Receita no ato da entrega da declaração anual. Outra questão, lembra o coordenador do MBA da Faculdade Armando Álvares Penteado (Faap), Tharcísio Souza Santos, é que esses recebíveis não são tão garantidos como muitos pensam. “E se a pessoa cair na malha fina? E se for demitida e não tiver 13º salário? O empréstimo terá que ser pago no vencimento de qualquer forma”, alerta. Também é importante que você lembre que em dezembro o volume de gastos de uma família costuma ser muito alto com férias, festas de fim de ano e presentes. Se você comprometer seu pagamento agora, não terá como garantir a sobrevivência nesse período. “Não existem juros baratos no Brasil, não existe a possibilidade de se ter dinheiro antes sem pagar caro por isso. É bom ver se não há outra opção mais vantajosa antes de pegar um empréstimo”, afirma o professor Souza Santos.