O ano que está por terminar marcou a retomada, ainda que de forma muito lenta, da atividade, superando a pior crise econômica da história do País.
Essa retomada deveu-se, em primeiro lugar, à melhora da qualidade da política econômica, iniciada após o impeachment de Dilma Rousseff, centrada no combate à inflação, na recuperação da competitividade, e no ajuste das contas públicas, realizando-se importantes mudanças, como a reforma trabalhista, o aumento da Desvinculação das Receitas da União (DRU) e o estabelecimento de um “teto” para o crescimento dos gastos públicos federais.
Essa mudança de orientação contribuiu para aumentar a confiança dos empresários e dos consumidores, o que provocou elevações da produção industrial e do consumo das famílias.
Outro fator essencial para explicar a recuperação da economia em 2017 foi o aumento sem precedentes da oferta de produtos agrícolas, que, além de gerar crescimento direto da produção, derrubou os preços da alimentação, gerando uma redução inesperada na inflação.
Essa “surpresa baixista” não só possibilitou levar os juros básicos (SELIC) ao menor valor desde 1994, como também gerou ganhos de poder aquisitivo na renda familiar, também afetada positivamente pelo aumento da ocupação e pela liberação dos recursos do FGTS.
Tudo isso também provocou respostas positivas nas vendas do varejo e na indústria. Houve também significativa contribuição do setor externo, impulsionado pelo maior crescimento mundial, que possibilitou não somente o aumento das exportações de matérias primas, como também de semimanufaturados e manufaturados, coroando o esforço de internacionalização de vários segmentos industriais.
Para 2018, espera-se que a economia brasileira apresente expansão mais robusta, com a volta do consumo das famílias como seu principal “motor” pelo lado da demanda, como ocorria na década passada, em decorrência da manutenção de condições favoráveis do crédito, supondo-se estabilidade da Selic, e dos aumentos de salários e de ocupação, em linha com a redução da taxa de desemprego.
Os investimentos produtivos também deverão aumentar, contribuindo positivamente para o PIB do próximo ano, refletindo a volta do crédito à pessoa jurídica, a maior confiança dos empresários, e a grande liquidez global, enquanto o setor externo deverá reduzir sua participação, devido à menor produtividade do setor agrícola, que reduzirá sua capacidade exportadora, e à elevação das importações, causada pela própria recuperação da economia.
Contudo, apesar das perspectivas favoráveis, também existem riscos não desprezíveis à recuperação mais intensa da atividade, sendo o principal a situação das contas públicas, cuja solução depende crucialmente da realização da reforma da Previdência.
Se nem sequer a proposta “desidratada” atual do Governo for aprovada, é muito provável que o País seja ainda mais rebaixado em sua nota de risco, o que poderia provocar aumentos da taxa de câmbio que ameacem o cumprimento da meta de inflação para o próximo ano, forçando o Banco Central a reverter a flexibilização monetária.
Outro cenário de risco não desprezível é a incerteza não somente com relação a quem será o novo Presidente da República a partir de 2019, como se esta nova administração será capaz de reverter o grande rombo fiscal ao longo de seu mandato, que terminará em 2022, o que novamente passará pela reforma do sistema previdenciário.
As dúvidas se este novo Governo será capaz de levar adiante essa e outras reformas estruturais cruciais, ou ceder à tentação populista, também podem provocar turbulências no câmbio e aumentar o risco-país, provocando aumento dos juros e desaceleração da atividade econômica.
A efetiva recuperação da economia brasileira e o aumento de sua capacidade de crescimento no longo prazo dependerão crucialmente do enfrentamento realista do problema fiscal e da implementação de medidas e políticas que solucionem o grande desequilíbrio das contas públicas que aflige a Nação.
FONTE: Instituto Gastão Vidigal / Equipe de economistas da Associação Comercial de São Paulo (ACSP)