Depois de dois anos de debates acalorados no legislativo paulista, foi aprovado na última terça-feira, 21/11, o Projeto de lei 874, que extinguiu a exigência de uso de carta com aviso de recebimento para informar o consumidor sobre a negativação do seu nome. A lei deve ser sancionada pelo governador Geraldo Alckmin no início de dezembro.
A conquista tranquilizou o público de empresários e dirigentes das mais de 400 Associações Comerciais que se reúnem no 18º Congresso da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), em Atibaia.
O custo do AR não precisará mais ser repassado para o consumidor, e o risco de que este se torne um superendividado se reduz, de acordo com lideranças do comércio.
Ainda assim, como lembrou Alencar Burti, presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e da Facesp, criou-se o mito de que o fim do AR é ruim para o consumidor.
“Isso não é verdade. Não queremos sujar o nome do consumidor. Que comerciante quer punir o cliente? Isso não é inteligente. Queremos ajudá-los a não se endividarem”, disse Burti na abertura do Congresso.
É preciso entender que o Projeto de lei 874 anulou os efeitos da lei estadual 15.659, de 2015, que tornou mais burocrática a inclusão de contribuintes nos cadastros de inadimplentes ao criar a exigência do aviso de recebimento.
Ao contrário da carta simples, o aviso de recebimento precisa ser entregue em mãos ao destinatário, que deve assinar a correspondência. Caso não assine, seu nome só será incluso nos cadastros após protesto em cartório.
Em situações como esta, o consumidor, além de ser obrigado a arcar com as custas do cartório, perde a possibilidade de renegociar a dívida diretamente com a empresa credora.
Deputados que votaram pelo fim do aviso de recebimento marcaram presença no 18º Congresso da Facesp e foram aplaudidos pelos mais de 1,2 mil dirigentes e representantes das associações comerciais do estado.
Cauê Macris, presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), disse que a aprovação do projeto 874 “corrigiu um erro cometido pelo próprio legislativo paulista”, quando este aprovou a lei que instituiu o uso de aviso de recebimento.
Macris enfatizou o papel das Associações Comerciais como protagonistas na derrubada dessa exigência que criava mais burocracia aos empresários e consumidores.
“O principal desafio que temos pela frente será a desburocratização do Estado brasileiro”, disse o presidente da Alesp, dirigindo a palavra especificamente ao governador, provável candidato à presidência da República.
Presente ao encontro da Facesp, Alckmin relembrou as tentativas de derrubar a lei do aviso de recebimento para informar a negativação do consumidor. O governador chegou a vetar a lei 15.659, mas a Assembleia Legislativa rejeitou o veto e promulgou a exigência.
Depois da imposição, várias frentes foram à Justiça na tentativa de barrar a lei. Foram impetradas três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) e uma no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) – movidas pela Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Confederação Nacional do Comércio (CNC) e pelo governo paulista.
“Vi que o judiciário iria demorar, por isso preferi fazer um novo projeto de lei (o PL 874) para acabar com essa burocracia”, disse Alckmin. “Hoje, no Brasil, o interesse coletivo é órfão e reprimido pelas grandes corporações, como os cartórios, que são muito fortes. Precisamos de uma agenda de modernização, simplificação e redução de custos.”
Mais cedo, Alckmin esteve reunido com o presidente Michel Temer para tratar da reforma da Previdência. Junto com outros 15 governadores, organizaram um cronograma para, segundo ele, “avançar com essa reforma ainda em dezembro”.
O próximo passo, segundo Alckmin, será moldar a reforma tributária.
FONTE: Diário do Comércio