A crise financeira atingiu o Brasil no momento em que o País vivia uma fase de recuperação do mercado de trabalho com crescimento do emprego, da renda e da massa salarial. Para se ter uma ideia, de 1998 a 2007, o Brasil teve expansão de 56% no emprego formal. Assim, saltou de 24,5 milhões de empregados com carteira assinada em 1998 para 37,6 milhões em 2007, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) por meio da Relação Anual de Informações Sociais (Rais). O agravamento da crise interrompeu esse ritmo em dezembro do ano passado, quando 600 mil vagas formais foram fechadas em todo o País. Só no Estado de São Paulo, segundo o secretário de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos, a perda de empregos formais de dezembro a março deverá superar 300 mil postos. Os dados oficiais serão divulgados hoje pelo Observatório do Emprego e do Trabalho. E, apesar de alguns sinais que indicam recuperação da atividade econômica, há dúvidas se o País conseguirá voltar ao nível de contratação formal pré-crise. Executivos de empresas de recursos humanos e contratação afirmam que atualmente as empresas estão dando preferência ao empregado temporário. “Essa modalidade é mais flexível do ponto de vista da legislação e também tem um custo menor para o empregador, dois fatores muito importantes neste momento de adequação das empresas por conta da crise”, afirma Pedro Scigliano Júnior, gerente regional da Organização Gelre. Ele explica que no primeiro trimestre deste ano houve mudança no tipo de pedidos das empresas: caíram os de recrutamentos e seleção e aumentaram para temporários e terceirizados. “Antes da crise, a relação era de três contratados para um temporário. Agora, essa relação se inverteu”, diz Scigliano. Nem mesmo os técnicos e executivos escapam dessa nova realidade. De acordo com Fernando Montero da Costa, diretor de Operações da Human Brasil, cada vez mais as empresas estão optando por terceirizar profissionais ligados a serviços como informática e tecnologia. “Além de diminuir o custo para a empresa, aumenta a competitividade, já que elas se dedicam integralmente à atividade fim”, diz. Outra vantagem é ter um especialista sem pagar mais por isso, pois se o funcionário é próprio, a empresa arca com o custo dos cursos de especialização e atualização, o que não ocorre em casos de terceirizados. Já as empresas que prestam serviços, mas não necessitam de profissionais especializados, vivem outro cenário. “Diminuiu sensivelmente a busca por nossos serviços neste início de ano”, afirma Antonio Salvador Morante, diretor do Grupo FB, que presta serviços de limpeza, vigilância patrimonial, segurança eletrônica, serviços gerais e manutenção. Segundo ele, os empresários aguardam o desenrolar da crise e por isso não renovaram os contratos.