A crise financeira internacional, que fez encolher a disponibilidade de crédito, pode ter favorecido o sistema de consórcios, em 2008. Entre os meses de outubro, novembro e dezembro, o trimestre imediatamente seguinte ao estouro da crise na economia mundial, os consórcios venderam 17% mais, comparado aos primeiros oito meses do ano, informou a Associação Brasileira das Administradoras de Consórcios (Abac). Apenas no segmento de motocicletas, o aumento chegou a 25% no último trimestre do ano. Na avaliação de Rodolfo Montosa, presidente da Abac, a redução do crédito teria levado muitos consumidores a optar pelo consórcio justamente pelo modelo de funcionamento do produto e, principalmente, pelo custo. “O consórcio não tem juros, é uma espécie de poupança destinada à compra de um bem”, disse. Apesar do bom desempenho, o presidente da Abac lamentou que o sistema não tenha sido lembrado pelo governo no pacote de medidas que desonerou os setores da construção e automotivo, anunciado anteontem. Montosa disse reconhecer a prioridade do governo em apresentar um plano de curto prazo, especialmente na área habitacional, mas lembrou que o sistema de consórcios responde por um quarto das vendas de imóveis do País e, portanto tem grande potencial. Hoje, informa o presidente da Abac, o sistema tem R$ 9 bilhões em caixa de recursos de consorciados que podem adquirir um imóvel. Pesquisa – Os brasileiros da classe B ainda são os que mais utilizam o consórcio para a compra de bens de maior valor, como imóveis e carros, com 64% de participação, mostrou uma pesquisa elaborada pela consultoria QuorumBrasil, a pedido da Abac. Já as classes com menor renda, das faixas C e D, ainda estão distantes do produto, com apenas 11% de participação. Ao final de 2008, cerca de 3,6 milhões de brasileiros participavam de um grupo de consórcio. A Abac ainda não tem uma estatística das vendas de cotas para a formação de grupos de consórcios de serviços, aprovada no início de fevereiro. À época, o governo autorizou a formação de grupos para aquisição de planos para cirurgia plástica, pacotes turísticos, colocação de próteses, cursos de pós-graduação ou MBA no exterior. Montosa disse que a criação desses novos grupos exige uma adaptação dos atuais contratos, que ainda vêm sendo feitos pelas administradoras. A expectativa, no entanto, diz, é de que esses grupos ajudem o sistema a encerrar 2009 com uma expansão de 8%. Os consórcios terminaram 2008 com R$ 70 bilhões de ativos administrados, que representam alta de 12% sobre o total em carteira em 2005.