Não resta dúvida de que a economia brasileira está, por fim, saindo da pior crise de sua história.
A redução da inflação, recompondo o poder aquisitivo das famílias, unida à melhora das condições de crédito, começa a recuperar o varejo, principalmente sua definição mais abrangente (varejo ampliado), que inclui veículos e material de construção.
A análise está no Boletim de Conjuntura de agosto, elaborada pelos economistas da Associação Comercial de São Paulo.
No caso da indústria, a retomada tem sido relativamente mais rápida, impulsionada pela produção orientada às vendas no mercado externo, resultado da internacionalização de alguns de seus subsetores, num contexto de maior crescimento da economia mundial, e, em particular, da Argentina.
A agropecuária, beneficiada por uma safra recorde, produto de um clima mais favorável, é o setor que apresenta a maior expansão, mostrando importante crescimento de sua produtividade.
Desse modo, é perfeitamente factível esperar, como o faz a maioria dos analistas econômicos, modesto crescimento econômico para o presente ano, e um aumento do PIB mais “robusto” para 2018.
Contudo, pelo lado da despesa, principalmente no que diz respeito ao consumo, existem evidências de que tenha havido uma mudança estrutural no seu comportamento, o que significa que este se recuperará, porém com tendência a permanecer em patamares inferiores aos alcançados em 2010.
As prováveis causas desse “novo normal” seriam o fato de que o desemprego ainda deverá permanecer, por um tempo, em níveis elevados, reduzindo a disposição a comprar.
Além disso, o crédito deverá, aos poucos, mostrar maior crescimento, porém, menor do que o observado no período anterior à crise, quando se expandiu, partindo de uma base inicial abaixo do normal para um país emergente como o Brasil.
Outro fator que pode pesar é a mudança de hábitos de consumo que ocorreu durante o ciclo recessivo, direcionando as compras para itens de menor valor.
Devido à grande deterioração da situação fiscal, tampouco se poderia esperar que o consumo de governo, baseado nas despesas com servidores, ou até o investimento público em infraestrutura, possam compensar o menor nível de gasto privado, como ocorreu em outras ocasiões.
Se aspiramos que o País possa aumentar sua capacidade de crescimento econômico de forma sustentada, é mister que este, daqui para diante, esteja baseado nas elevações tanto da produção como da produtividade do setor privado.
Para isso, será imprescindível a reconstrução e ampliação da combalida infraestrutura, além de prosseguir com as reformas estruturais nos campos tributário, trabalhista, educacional e previdenciário, para reduzir o “custo Brasil”, recuperando a competitividade perdida em tantos anos de erros de política econômica.