Para analistas do setor financeiro, a elevação da taxa básicos de juros (Selic), de 6,25% para 7,75% ao ano, é consistente com o agravamento do quadro fiscal. Por outro lado, o setor produtivo considerou a alta exagerada e com potencial para agravar a recessão econômica.
Segundo Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest, pesou na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central a possibilidade de furo do teto de gastos para obtenção de recursos para o novo Bolsa Família, que teria impacto sobre a inflação.
“O comunicado teve um tom duro, deixando claro que haverá mais aumento de juros pela frente para tentar conter um avanço mais expressivo da inflação”, disse Fernanda.
Para a economista-chefe do Ourinvest, uma taxa de juros de dois dígitos já parece ser uma realidade próxima. “Vale destacar que a última pesquisa Focus projeta a Selic em 9,50% para 2022, mas podemos esperar bem mais do que isso”, diz.
Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito (Acrefi), também projeta a Selic elevada no próximo ano. Segundo ele, o Banco Central sinalizou no comunicado que continuará a elevar a taxa básica de juros até dezembro, sendo que as altas podem entrar por 2022.
“É preciso observar as variáveis para o próximo ano, tanto com relação à situação fiscal, quanto as pressões de inflação e indexação da economia, que devem ser fortes por um bom tempo”, disse Tingas.
Para o economista-chefe da Acrefi, como a inflação não deve ceder tão cedo, o Banco Central acertou em trabalhar as expectativas no seu comunicado.
RISCO PARA A RETOMADA ECONÔMICA
Para os empresários, o risco das seguidas elevações dos juros básicos é o prejuízo para a retomada econômica. De acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a elevação da Selic trará custos maiores para o comércio e para o setor produtivo em geral.
A ACSP entende que o aumento de juros não se justificaria porque os preços estão sendo pressionados por problemas de oferta, como alta nos combustíveis e na luz, não por causa de excesso de demanda.
O tom é semelhando ao do posicionamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para a entidade, o BC poderia não ter acelerado o ritmo de reajuste, porque existe uma defasagem e os efeitos dos aumentos nos últimos meses sobre a inflação começam a ser sentidos.
A CNI diz que a atividade econômica dá sinais de desaquecimento e, nos próximos meses, os efeitos defasados do aumento da Selic vão continuar contribuindo para desestimular o consumo, o que aumenta as chances de recessão em 2022.
FONTE: Diário do Comércio