No 11º Encontro de Empresas Comerciais e Exportadoras, promovido pelo Ceciex e pela Apex-Brasil, foco na conexão entre agricultores e indústrias de menor porte com compradores do mercado internacional
De um lado, uma forte agroindústria, cujos produtos representam quase 50% das exportações brasileiras – como soja, carne, café, sucroalcooleiros e florestais (dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA).
Do outro, um consumidor que tende cada vez mais a rejeitar a comoditização, tem reavaliado seus hábitos de consumo e, por isso, têm preferido experiências mais simples e autênticas – como comprar comida, cosméticos ou itens de vestuário, entre outros, de pequenos produtores locais.
Potencializar parcerias entre pequenos empreendedores baseados em biodiversidade, muitos com certificações orgânicas nacionais e internacionais, conectando-os com mercados além das fronteiras, foi o foco principal do 11º Encontro Brasileiro de Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras, realizado entre 25 e 27/11 na capital paulista.
Promovido pelo projeto Brazilian Suppliers, parceria entre o Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (Ceciex) e Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e investimentos), reuniu mais de 300 empresas em workshops, palestras e rodadas de negócio com compradores internacionais.
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Da saga de pequenos produtores rurais do interior do Pará à Europa, à fábrica mineira de misturas à base de frutas nativas para sobremesas for export, retratadas no documentário “Quem planta, colhe… E exporta!” (confira ao final desta matéria), produzido e filmado pela equipe do Ceciex e apresentado no primeiro dia de evento, todas deram uma ideia de importância da parceria entre as comex e esses empreendedores.
RITA, DO CECIEx, E BILLI, DO MAPA: EMPURRÃOPARA OS PEQUENOS NO COMÉRCIO EXTERIOR
Mas, apesar de estratégicos para a economia, os pequenos negócios enfrentam inúmeros desafios diários, como a falta de políticas públicas que incentivem indústrias e produtores locais de pequeno e médio porte a entrarem no comércio globalizado, de acordo com Rita Campagnoli, presidente do Ceciex.
“O objetivo desse encontro, realizado há 11 anos com o apoio da Apex e do seu Peiex (Programa de Qualificação para Exportação) é disseminar a cultura exportadora das pequenas e médias indústrias, apoiando-os a prospectarem novos mercados e estimulando o intercâmbio comercial”, afirmou, lembrando do auxílio fundamental das comerciais exportadoras para que isso aconteça.
Para reforçar ainda mais esse trabalho do Ceciex, que “nasceu na ACSP”, segundo o seu presidente Alfredo Cotait Neto, que também comanda a Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), ele reforçou o trabalho de transformação que a entidade vem promovendo num momento em que o comércio exterior voltou a ser fundamental para o desenvolvimento do país, e que se baseia três pilares fundamentais: comércio, investimentos e tecnologia.
“Nós, da ACSP e da Facesp, desenvolvemos e construímos um ambiente propício não apenas para discussão de comércio exterior, mas uma espécie de coworking, pronto para receber as câmaras de comércio e consulados nas missões vindas de outros países para facilitar esse processo.”
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Representando Sérgio Ricardo Segóvia Barbosa, presidente da Apex-Brasil, Vinícius Rafael Terra Estrela, responsável da agência para o Sudeste, também destacou os esforços conjuntos para potencializar os produtores locais no comércio exterior.
Entregar melhores serviços e operações comerciais para o mercado externo e incentivar ações de promoção comercial é parte estratégica do governo, afirmou. “Mas só um projeto setorial forte e robusto, baseado em parcerias, para que essas empresas se qualifiquem e se consolidem no mercado internacional, é que farão com que isso aconteça de maneira mais rápida.”
COTAIT, DA ACSP/FACESP: TRANSFORMAÇÃOEM PROL DA INTERNACIONALIZAÇÃO
Ana Cláudia Cunha Barbosa, gerente de qualificação e competitividade da Apex-Brasil, lembrou o quanto pode ser assustador para um pequeno negócio iniciar um processo de internacionalização. Daí a importância de mesclar conhecimento e ação para ser bem sucedido, afirmou.
Assim, nasceu o Programa de Qualificação, criado pela Apex-Brasil em 2017, que contou com a parceria de algumas comex para levar conhecimento, experiência e o acesso a outros mercados, e dar as primeiras orientações para os pequenos negócios se expandirem além das fronteiras.
“Desde então, foram realizadas 24 ações, com participação de 70 comex, e onde 1210 empresas tiveram oportunidade de receber conhecimento e informações úteis e necessárias para exportar”, disse. “Um passo a mais para aumentar a competitividade e fazer a economia continuar girando.”
O AGRO E O MERCADO EXTERNO
O potencial do agronegócio e seus impactos no comércio exterior foram apresentados no evento por Augusto Luiz Billi, auditor fiscal federal agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que representou a ministra Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias.
Ao apresentar números que apontam que o Brasil “é uma potência que desenvolveu tecnologias de produção em ambiente tropical” – onde o agronegócio responde por 21,4% do PIB, gera 18 milhões de empregos e exportou US$ 102 bilhões (ou 42,4% do total) em 2018, Billi afirmou que o setor é o único com superávit de US$ 80 bilhões, e saldo na balança comercial “sempre positivo”.
“Estamos trabalhando para avançar ainda mais nesse tema de importação e exportação, para que o Brasil cresça e gere empregos, aumentando a produção e ao mesmo tempo investindo na preservação de terras e na recuperação de áreas degradadas”, afirmou.
Billi lembrou também que um dos desafios do agronegócio brasileiro, que colhe cerca de 250 milhões de grãos por ano, é produzir preservando água, energia e a Amazônia, já que o mundo só compra de áreas cultivadas que foram preservadas.
NO DETALHE, RODADAS DE NEGÓCIO DO 11º ENCONTRO cECIEX
“Por conta do efeito ‘poupa-terra’, nossa produção é a mais sustentável que existe: nos últimos 40 anos, enquanto a produção de grãos aumentou 397%, o aumento de área foi de apenas 45%”, destacou. “Ninguém preserva mais a Amazônia que os produtores locais”, completou.
O auditor destacou ainda alguns pontos do cenário atual do agro brasileiro que devem ser melhorados, como as exportações, que apesar de crescentes, perderam participação no mercado internacional, ou o crédito rural insuficiente e cada vez mais concentrado.
Ou ainda, a diminuição do número de propriedades rurais, mesmo com assentamento de 1 milhão de famílias produtoras, além da imagem ruim junto aos consumidores nacionais e internacionais, apesar da legislação ambiental rigorosa.
“Um principais desafios do setor é a comunicação: a tecnologia evoluiu a tal ponto que, através da inteligência artificial, um trator consegue ‘conversar’ com a colheitadeira para o tornar o trabalho mais produtivo e eficiente”, afirma. “Mas como conversar com o produtor? É aí que entra o estado, com incentivos ao associativismo, ao cooperativismo, à inovação e fomentando o crédito seguro para PMEs e incentivando-as para fortalecer o comércio internacional com 150 países”, destacou.
O 11º Encontro do Ceciex, que realizou a cerimônia de posse de seus 16 delegados regionais, teve como parceiros a Facesp, ACSP, Ciesp, Invest SP, SP Negócios, Prefeitura de São Paulo, Ibrei, Sebrae-SP, IPT, Procomex, Canal Aduaneiro, entidades de classe e câmaras de comércio.
FONTE: Diário do Comércio